Tinha eu 23 anos, vivia em Lisboa e estudava na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional, Lisboa. Era um amante da fotografia e a máquina fotográfica, uma Nikkormat EL, andava sempre comigo. No dia 25 de Abril de 1974, também.
Às vezes perguntam-me: o que é para ti o 25 de Abril? E eu respondo: É uma mulher nua que me entra pelo quarto adentro a gritar: “Victor, acorda, está a haver uma revolução, vamos prá rua!”
Deviam ser umas 7 da manhã. Levantei-me e vesti-me a correr; lavar a cara, penso que nem me lembrei disso. Eu e @s 5 colegas que viviam comigo amontoámo-nos na minha Dyanne e partimos à procura da revolução. De Santa Cruz de Benfica em direção a Lisboa, por dentro de Monsanto (seria um lugar provável para operações militares) mas de soldados e revolução, nada.
Ao chegarmos à Praça de Espanha, os primeiros sinais; tanques e tropas cercavam a Embaixada de Espanha. Afinal era verdade! Fontes Pereira de Melo até ao Marquês e Avenida abaixo. Jeeps e camiões com soldados passavam apressadamente por nós. Chegámos ao Rossio e aí a coisa começava a ser séria. Sacos de areia e metralhadoras barravam o caminho. Parámos o carro em cima dum passeio (em dias de revolução não é costume passar-se multas) e seguimos a pé. E entre soldados, gente. tanques, gritos, tiros e cravos, lá fui disparando a camara sempre que a situação o permitia. Foram centenas de fotos das quais ainda guardo, religiosamente, os negativos.
E assim nasceu, bastantes anos depois, a exposição “Lisboa, 23 anos, 25 de Abril” que tem percorrido escolas, bibliotecas, sindicatos, etc., sendo de destacar a Reitoria da Universidade de Lisboa e o Museo Nacional de Cáceres, Espanha.